quarta-feira, 1 de abril de 2009

Falam as partes do todo? / Matéria O Globo

Jogo de voyeurismo
Adriana Pavlova / Rioshow


Esqueça qualquer associação entre o nome da coreógrafa Dani Lima e a dança aérea que a consagrou. Rume para o Espaço Cultural Sérgio Porto com o corpo e a mente abertos para descobertas. “Falam as partes do todo?”, novíssimo espetáculo da companhia carioca liderada por Dani, põe o espectador no centro da cena, tal como um voyeur diante de corpos desconhecidos.

A coreógrafa deixa para trás, bem para trás mesmo, suas famosas criações nos ares e, no espetáculo que estréia hoje e segue em cartaz por duas semanas, ocupa como nunca o chão.

Dani e sua trupe trabalharam durante quatro meses com objetos criados pela artista plástica Tatiana Grinberg. Por objetos entenda-se paredes e quadrados com várias aberturas e orifícios. São eles que surgem no começo da apresentação, quando os bailarinos se espalham pelo linóleo instalado no Sérgio Porto, onde, aliás, não há qualquer aviso de onde o público deverá ficar.

— A platéia vira voyeur e é levada a questionar suas percepções habituais do espaço com o corpo, do espaço com a obra de arte e até mesmo do espaço com o próprio público — diz Dani, que, apesar da distância momentânea da dança aérea, assinará uma criação nas alturas para a Intrépida Trupe, companhia da qual é uma das fundadoras.

Para instigar ainda mais a platéia, os bailarinos propõem algumas charadas. Não raro, as pessoas são convidadas a olhar a movimentação deles por outros ângulos. Não vai surpreender se alguém, no meio da última parte do espetáculo, acabar misturando-se aos intérpretes.

— É um risco que se corre. A partir do momento em que não estabelecemos regras rígidas para o público, tudo pode acontecer — diz Dani.

Publicado no jornal O Globo em 22/08/2003

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