quarta-feira, 1 de abril de 2009

Falam as partes do todo? / Matéria JB

O jogo da dança: Dani Lima consolida linguagem experimental em novo trabalho
Ana Cecilia Martins / Caderno B

Dani Lima vem desenhando um caminho importante no cenário da dança carioca. E por que não dizer um caminho vertical, que partiu do ar, com os arrojados números de dança aérea, chegando ao solo, aposta de seu novo espetáculo? Não que Dani tenha abandonado as raízes circenses, ou que esta trajetória tenha um caráter evolutivo. Mas com Falam as partes do todo?, em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, a bailarina e coreógrafa carioca consolida uma carreira que tem a experimentação como pilar e a maturidade artística como resultado.

A interação é o elemento chave dessa coreografia, que une na mesma cena obras de arte, textos, música, bailarinos e público. Ao entrar no espaço - sem separação entre palco e platéia - o espectador se depara com uma grande muralha formada por pequenos módulos brancos, criados pela artista plástica Tatiana Grinberg. Como formas vivas, as estruturas vão, ao longo do espetáculo, criando novas arquiteturas a partir da intervenção dos bailarinos que, dessa forma, jogam com a perspectiva do espectador.

- Me interessa sempre abrir caminhos na minha dança. Esse, de interagir com as obras da Tatiana, tem mostrado novas possibilidades. Também queremos fazer do público um agente ativo do espetáculo, o que é uma proposta arriscada, porém intencional - afirma Dani.

Lidar com novas linguagens não assusta a coreógrafa, que tem na bagagem experiências com a Intrépida Trupe, a direção coreográfica da recente versão de O grande circo místico, do Teatro Guaíra, além de espetáculos elogiados como os seus Vaidade e Digital brazuca, apresentados em 2001. Instalação sonora é agora mais um conceito incorporado ao seu trabalho.

- Fizemos uma colagem de frases que chega de forma diferente em cada parte da sala, evocando diversas percepções sonoras. É o que denominamos "surround tupiniquim" - explica o músico Felipe Rocha, que assina a trilha sonora.

As questões que envolvem a identidade corporal voltam a instigar Dani Lima, que idealizou junto com os cinco bailarinos de sua companhia (Vivian Muller, Mônica Burity, Vinicius Salles, Clarice Silva e Rodrigo Maia) recortes de espelhos com perfurações onde se encaixam braços, pernas, mãos e pés, criando um universo de formas híbridas.

- A idéia é provocar diferentes maneiras de ler os corpos - afirma a coreógrafa. Comandando a sua companhia desde 1997, Dani, que volta ao palco nessa nova coreografia, se coloca com uma das mais atuantes criadoras do movimentado cenário da dança carioca, conforme avalia a coreógrafa e curadora de dança Lia Rodrigues:

- Ela vem abrindo um caminho novo de uma forma dedicada e inteligente. Sua trajetória tem consistência e nesse trabalho mostra que está querendo pisar com mais firmeza no chão.

Dani reconhece que os tecidos, elemento chave da dança aérea, estão ficando cada vez mais ausentes nas criações de seu grupo.

- Não que tenha abandonado a dança aérea. As minhas bases continuam as mesmas. Minhas idéias é que vão se expandindo - afirma Dani, que assina duas coreografias para o novo espetáculo da Intrépida Trupe.

Publicado no Jornal do Brasil em 24/08/2003

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